Cozinha como militância – um retrato de Ruan Félix

27/08/2019

Ele aprendeu a cozinhar aos 20 anos, em busca da independência na própria escolha do que comer. A culinária de Ruan Félix não veio de berço, nem de paixão, mas de uma decisão: se tornar vegano. “Eu não sabia fritar um ovo, mas não podia pedir pra ninguém preparar comidas diferentes para mim, então fui pro fogão na marra”, contou o jovem.

O veganismo entrou em sua vida a partir da influência de uma amiga militante da causa, que recomendou vídeos e documentários para Ruan. “Depois de ver o sofrimento, os dados, as explicações, não tem como desver.” A decisão desencadeou uma mudança que foi além da própria alimentação – fez com que o jovem, já insatisfeito profissionalmente, se apaixonasse pela gastronomia.

Pouco tempo depois, Ruan decidiu buscar profissionalização na área. “Muitos cozinheiros veganos trabalham de olhômetro, sem base teórica, e eu não queria isso, queria saber mais e entender o que estava por trás da minha cozinha.” Foi nesse momento que encontrou a Gastromotiva, a partir de outra organização – a Micro Rainbow, que cria ferramentas e encontra oportunidades para a população LGBT.

A sexualidade também é aspecto importante da vida de Ruan, principalmente pela sua vivência em Magalhães Bastos, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, a mais de 30 quilômetros do centro da cidade. “Eu comecei a entender que o que faço não é só um prato de comida, por trás daquele prato tem um jovem do subúrbio, que é LGBT, correndo atrás de uma câmera que não é dele, um cenário que não tem na casa dele, pra fazer fotos boas pra estar no mesmo nível de pessoas que tem acesso a isso tudo, que tem acesso a bons alimentos, a brotos e orgânicos com facilidade”, contou ele.

Os seus valores são diretamente refletidos no seu trabalho. Hoje, aos 26 anos, o jovem produz almoços, jantares, eventos e aulas. “Recentemente fiz um almoço em que as pessoas não sabiam o cardápio e mesmo assim contrataram. Nesse dia pude perceber que ninguém mais está pagando por comida e, sim, por uma experiência.”

Mas sua maior influência é através do seu Instagram, onde conta com mais de 10 mil seguidores que acompanham receitas e problemáticas do seu dia-a-dia. “Eu nunca tinha me pensado como educador, mas, particularmente, gosto disso por tudo que carrego, por toda a representatividade. Consigo mostrar pra pessoas que nem eu que é possível, e não em uma lógica meritocrática, eu só assumo o meu papel de mostrar que essa realidade existe.”