Refeições nutritivas para quem mais precisa: entrevista com a nutricionista voluntária da Gastromotiva Danielle Gomes
08/07/2020
A nutricionista carioca Danielle Gomes é vizinha do Refettorio Gastromotiva no Rio de Janeiro, mas nunca tinha voluntariado antes. Com a chegada da pandemia, decidiu que era hora de começar. Especializada em segurança alimentar e qualidade, ela agora faz parte do time de profissionais voluntários que nos ajudam a levar alimentação saudável e nutritiva a quem mais precisa em comunidades no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Na entrevista a seguir, Danielle fala um pouco sobre a experiência do primeiro trabalho voluntário, voluntariar durante a pandemia e a importância da sinergia entre as áreas de gastronomia e nutrição em um momento em que as pessoas começam a se preocupar cada vez mais com a saúde.
Já fez trabalho voluntário antes?
Nunca tinha feito trabalho voluntário. Sou nutricionista desde 2007, há 13 anos trabalho com isso. Já trabalhei em ambientes onde tive contato com voluntariado, mas nunca tinha sido voluntária. Já tinha vontade de voluntariar na Gastromotiva há algum tempo, mas não sabia como chegar. Sou vizinha daqui, passo em frente há anos, mas faltava iniciativa e também uma vida corrida. Então veio esse momento em que demos uma pausa e começamos a repensar algumas coisas. Uns ciclos se fecharam e outros se abriram. Não tem como não passar por uma situação dessa e não mudar. Acho que quem passou por esse momento e não mudou, perdeu uma bela de uma oportunidade.
O que te fez tomar a decisão?
Trabalho há 11 anos na área de consultoria com comércio e restaurantes e de repente me vi sem trabalho, 80% dos meus clientes fecharam. Você se sente inseguro. E aí me deu esse estalo de “Não, eu sou profissional de saúde, as pessoas precisam de mim. Nesse momento em que as pessoas estão preocupadas com saúde, eu posso contribuir”. E também mudar um pouco essa lógica do trabalho que está sempre pensando no dinheiro. É claro que o dinheiro é importante, mas naquele momento o que eu queria mesmo era manter minha cabeça funcionando de alguma forma. Mandei o meu currículo no site e no mesmo dia me ligaram. Foi uma conexão mesmo, eu estava precisando deles e eles de mim. Quando cheguei, vi o tanto que poderia colaborar.
O que você ressalta de diferente nessa experiência de voluntariado durante a pandemia?
O voluntariado foi essencial para eu manter a saúde mental durante a pandemia. Foi uma vontade de ajudar e de ser útil nesse momento e foi terapêutico para mim. Moro sozinha, fiquei 2 meses trancada em casa, precisava dessa integração. Acho que o trabalho voluntário é um caminho onde todo mundo ganha, é uma corrente que só tem ganhos. E a gente cresce com essa experiência. Cheguei aqui e conheci muita gente legal, um ambiente de trabalho muito legal, pessoas maravilhosas. Foi amor à primeira vista . E que bom que eles me acolheram tão bem, a gente se reconheceu e se conectou. Está sendo uma experiência bem legal.
Qual o maior desafio dessa experiência?
O maior desafio sempre é promover saúde. Sou profissional de saúde há muito tempo, antes de ser nutricionista eu era técnica de enfermagem. O profissional de saúde não é só profissional de saúde quando ele está no trabalho, ele é profissional de saúde o tempo inteiro. O que a gente quer é sempre promover saúde, ainda mais em um cenário onde a saúde está em crise e a busca por sua promoção se tornou mais essencial. Uma saúde que envolve vários aspectos, não só a ausência da doença, mas o nosso estilo de vida, nosso estilo de consumo, isso tudo impacta na nossa saúde também. Promover a saúde em um mundo que está doente, é um desafio diário. Se eu puder contribuir um pouquinho para essa mudança, mudando primeiro dentro da gente e depois refletindo isso no mundo em que a gente vive, acho que estou no caminho certo.
O que está sendo mais legal em poder contribuir nesse momento?
O mais legal tem sido a troca. Estou aprendendo muito com eles, estou resgatando. Sempre estudei em escola pública, faculdade pública, então tem essa coisa de dar um retorno à sociedade. É um projeto maravilhoso, multidisciplinar, que envolve várias áreas, então essa troca tem sido muito enriquecedora. A gastronomia e a nutrição são áreas que se complementam e é muito importante a gente trabalhar junto, principalmente quando estamos atendendo pessoas que já possuem uma saúde debilitada. Vejo minha atuação aqui abrindo espaço para muitos nutricionistas. A gente vê o quanto pode agregar se trabalhamos juntos. Muitos chefs na área de gastronomia tem um certo preconceito porque vêem o nutricionista só como profissional da saúde ou como alguém que vai chamar a atenção pelas coisas erradas, mas não. É um profissional que está muito integrado ali, que pode contribuir com muitas outras coisas. Espero que nós consigamos ocupar esse espaço para atender à essa demanda da gastronomia. É bom a gente ver como as pessoas aqui entendem o seu trabalho e eu fico feliz de poder abrir esse espaço para a minha profissão.
Pretende continuar fazendo trabalhos voluntários após a crise?
Sim, pretendo. Enquanto puder estar sendo útil para as pessoas, tanto aqui na Gastromotiva quanto em outros lugares. Espero conseguir manter isso como parte da minha vida.