O banquete despachado de Adilson Oliveira

02/09/2019

A história de Adilson Oliveira com a gastronomia começou em um cenário diferente de todos os seus colegas de turma. O primeiro contato do jovem com a cozinha foi no terreiro frequentado por sua família desde que ele era criança. Adilson é candomblecista e, segundo ele, “quem é criado no Candomblé entra na cozinha muito cedo, porque é de lá que sai todo o conhecimento e oferendas para o Sagrado. É a forma de agradecemos por todas as bençãos que temos no dia-a-dia.”

Com avó zeladora de santo e tia-avó doceira, as paixões de Adilson pela religião e pela gastronomia cresceram ainda mais. Da primeira paixão, fez militância. “Somos todos iguais perante a lei, mas também perante a Deus, a todos os Orixás e entidades – cada um com a sua crença. E o direito de um termina onde começa o do outro – o respeito é uma via de mão dupla. E eu tenho direito de acreditar na minha fé”, conta ele.

Da segunda, fez profissão. Mesmo na Marinha, em que trabalhou por dois anos, Adilson era responsável pela comida, e já cozinhou para mais de 500 pessoas. Através de um amigo, conheceu a Gastromotiva, onde faz parte da 9° turma do Curso de Cozinheiro Profissional com Ênfase em Gastronomia Social, no Rio de Janeiro. “Na cozinha, a gente desperdiça muito. Quando eu salto do ônibus e caminho até o meu trabalho, são mais de 30 pessoas deitadas nas calçadas, pessoas que vivem na rua e precisam de um alimento. O que me enamorou pela organização foi isso – dos insumos que seriam lixo, fazer comida e dar dignidade pra quem precisa”, afirmou.

Morador do Morro de São Carlos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Adilson sempre desejou trabalhar com a parte social da gastronomia, e seu sonho é abrir um projeto que ensine culinária para jovens e crianças de sua comunidade. “Conhecimento guardado na caixinha não vale de nada, e eu sinto necessidade de passar para o próximo tudo que aprendo. Na minha vida eu perdi muitos amigos, vejo gente que cresceu comigo na prisão ou deitado no meio-fio. Isso tudo porque não tiveram oportunidade. Eu quero ser a oportunidade”, finalizou ele.